28 de maio de 2013

A Maldição do Vampiro – Parte II




            Os dois homens se encontram sentados em um café. Duas xícaras fumegantes depositadas nas mesas de pedra semelhantes a mármore. Ambos parecem conversar de forma entusiasmada sobre a vida, o universo e tudo mais.
            - E então, vai me explicar afinal qual é a grande sacada desse roteiro?
            - Oras, é simples cara. A maldição do vampiro é uma alegoria da condição humana. É tudo muito simples, mas requer um pouco de conhecimento dessa mitologia tão confusa e que tá tão na moda. Eu explico:
            O vampiro é um parasita por natureza. Ele não tem vida própria. Não tem vida dentro de si, apenas órgãos mortos e que não funcionam. Sua existência se encontra ligada diretamente à escuridão e à noite. Dessa forma ele rasteja nas sombras e observa. Só observa, sem ter interação verdadeira. Afinal, o mundo não é seu lugar por excelência, ele apenas o habita, mas não vive de fato nele.
            Assim ele segue nessa existência sem sentido. Ou melhor, com apenas um sentido, sim o vampiro tem um objetivo, mesmo que ímpio. O vampiro clama por sangue, é apenas naquele momento, em que se alimenta, em que abraça e beija sua vítima é que ele se sente vivo. Um parasita de fato, que precisa dos outros para ter seus poucos minutos de alegria e dádiva. É apenas enquanto dura o efeito daquele sangue em seu organismo sobrenatural que seus órgãos se movem. É ali, naquele momento que seu coração bate, de forma extremamente fraca, mas ele sabe, ele sente. O problema é que isso não dura, afinal, é uma existência roubada, que ele não mais possui. Dessa forma, o vampiro existe, mas não vive a vida, não verdadeiramente. Como um fantoche vazio de significado e vida, apenas movido de forma mecânica.
            É explicado dessa forma, entendendo o vampiro dessa forma que entendemos que os vampiros existem de fato. E em grande quantidade. Há pessoas de todos os jeitos que vivem a vida dessa mesma forma. Como cascas ocas sem objetivo específico. Apenas vivem. E eu não digo que sejam pessoas más. Não digo que necessariamente se alimentem dos outros, mesmo que existam os que fazem isso. São apenas pessoas sem objetivo, sem foco específico. Seus órgãos não batem mais, ele não mais respira, seu coração atrofiado, o gosto do alimento é como cinzas e pó em sua boca. Esse é o vampiro, lhe foi negada a existência plena, pela razão que for.
            O vampiro carrega em si toda tristeza do mundo, e segue assim, com apenas alguns momentos que sente que talvez possa ver um raio de luz, seu coração ameaça se movimentar como um espasmo residual de memória muscular. Afinal, se existe uma dúvida nesse mecanismo todo é a existência, ou não, de uma forma de quebrar essa maldição.
            Muitos dizem que a reposta para isso é tomar as rédeas da própria vida. É deixar de ser apenas um sobrevivente e se transformar em agente de mudança. Só dessa forma o vampiro pode, talvez, quebrar esse vício, essa maldição. Viver por si e não apenas esperar apenas pequenos raios de sol que possam surgir, pequenas gotas de sangue vital a dar uma falsa esperança. É preciso quebrar o pó e largar as amarras. É só assim que determinadas pessoas podem sair da situação de “não-vivo” para finalmente enxergar de novo o sol com os próprios olhos.

João Carlos Radünz Neto – 27/05/2013 – 20:42